
A Dra. Nathália sempre acreditou que seguiria uma carreira longe do ambiente hospitalar, mas sua vocação para cuidar das pessoas acabou falando mais alto. Inicialmente, seu interesse era pela oncologia clínica, mas um estágio inesperado em cirurgia geral mudou sua trajetória. A possibilidade de intervir diretamente na saúde dos pacientes e trazer soluções imediatas a encantou, levando-a a se especializar na área cirúrgica.
Durante sua residência em cirurgia geral, teve contato com a endoscopia digestiva e descobriu um universo de procedimentos minimamente invasivos que revolucionam o diagnóstico e o tratamento de diversas doenças gastrointestinais. Desde então, sua missão tem sido utilizar essa especialidade para não apenas diagnosticar, mas também tratar e, muitas vezes, salvar vidas.
Com essa experiência, a médica compartilha nesta entrevista informações valiosas sobre a endoscopia digestiva, sua importância para a saúde intestinal e como hábitos diários podem impactar diretamente a longevidade e o bem-estar.
Para quem não conhece, o que exatamente é a endoscopia digestiva e como ela funciona?
Muitas pessoas pensam na endoscopia digestiva apenas como um exame para visualizar o estômago, mas ela vai muito além disso. O médico endoscopista realiza a endoscopia digestiva alta, a colonoscopia e outros exames, como CPRE e ultrassom endoscópico. Esses procedimentos permitem diagnosticar e tratar doenças do pâncreas, fígado e trato gastrointestinal. Também podemos remover lesões pré-malignas, colocar próteses e até realizar procedimentos para tratar obesidade sem cirurgia.
Qual é a importância desse exame para a saúde gastrointestinal?
A endoscopia digestiva é essencial para diagnosticar e tratar diversas condições gastrointestinais. Com ela, conseguimos identificar desde gastrites e doença do refluxo até tumores em estágio inicial. A colonoscopia, por sua vez, é um exame fundamental para a detecção precoce do câncer de intestino.
Quais são as principais doenças e condições que a endoscopia pode detectar precocemente?
Os exames endoscópicos são fundamentais para identificar precocemente cânceres de estômago e intestino, permitindo tratamentos menos invasivos. Em alguns casos, conseguimos remover o câncer inicial sem necessidade de cirurgias agressivas, como a retirada de parte do estômago ou do intestino.
Além disso, a endoscopia também é utilizada para diagnosticar Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE), úlcera gástrica e duodenal, doenças inflamatórias intestinais (como Doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa) e pólipos intestinais, que podem evoluir para câncer se não forem removidos a tempo.
Quais são os principais sinais de alerta que indicam a necessidade de buscar um especialista e realizar exames?
Muitas doenças gastrointestinais são silenciosas no início, por isso, qualquer sintoma persistente deve ser avaliado por um especialista. Sinais como azia frequente, dores abdominais, mudanças nos hábitos intestinais, perda de peso inexplicável e sangue nas fezes não devem ser ignorados.
A demora na busca por atendimento pode comprometer o sucesso do tratamento. Doenças como o câncer colorretal, por exemplo, têm altíssimas chances de cura quando diagnosticadas precocemente. Além disso, exames complementares devem sempre ser avaliados por médicos especializados, garantindo uma análise correta e um tratamento adequado.
Como a saúde do sistema digestivo impacta diretamente a nossa qualidade de vida e longevidade?
Nosso trato gastrointestinal não apenas processa alimentos, mas também desempenha um papel essencial na imunidade, na produção de neurotransmissores como a serotonina e na interação com o sistema nervoso central – o chamado eixo cérebro-intestino.
Além disso, a microbiota intestinal tem ganhado cada vez mais destaque. O equilíbrio entre as bactérias boas e ruins no intestino impacta diretamente nossa saúde, influenciando desde a digestão até a prevenção de doenças crônicas. Estudos indicam que um intestino saudável está associado a uma melhor resposta imunológica, ao controle da inflamação e até à longevidade.
Quais hábitos contribuem para manter um sistema digestivo saudável?
• Ter uma alimentação equilibrada, rica em vegetais, proteínas magras e fibras, evitando ultraprocessados e açúcares refinados.
• Beber bastante água, pois a hidratação auxilia na digestão e na absorção de nutrientes.
• Praticar exercícios físicos regularmente, o que melhora a motilidade intestinal e auxilia na perda de peso.
• Dormir bem, já que distúrbios do sono aumentam o risco de doenças gastrointestinais, como a Retocolite Ulcerativa.
• Controlar o estresse, pois ele afeta diretamente o funcionamento do intestino e pode desencadear problemas como a Síndrome do Intestino Irritável.
O estresse e a ansiedade podem afetar a saúde gastrointestinal?
Sim, e de forma significativa. O intestino está diretamente conectado ao cérebro, e esse vínculo é tão forte que o chamamos de eixo microbiota-intestino-cérebro.
Alterações emocionais podem desencadear sintomas como dores abdominais, náuseas e diarreia. Além disso, distúrbios como Síndrome do Intestino Irritável, dispepsia e doenças inflamatórias intestinais são frequentemente associados ao estresse.
Nos últimos anos, houve um aumento nas doenças gastrointestinais? O que pode estar contribuindo para isso?
Sim. Atualmente, observamos um crescimento significativo de doenças crônicas gastrointestinais, muito impulsionado pelo estilo de vida moderno. A alimentação ultraprocessada, o sedentarismo, a privação do sono e o estresse constante são fatores que aumentam o risco de obesidade, refluxo, gastrite, doenças inflamatórias intestinais e até cânceres gastrointestinais. A obesidade, por exemplo, já é reconhecida como um fator de risco para pelo menos 13 tipos de câncer, incluindo os do aparelho digestivo.
Para finalizarmos, qual mensagem você deixaria para quem deseja manter a saúde gastrointestinal em dia e viver com mais bem-estar e longevidade?
Cuidar da saúde intestinal é investir em qualidade de vida. Um intestino saudável, com uma microbiota equilibrada, contribui para um organismo mais forte e resistente. Pequenas mudanças nos hábitos diários fazem toda a diferença. Priorize uma alimentação rica em fibras, hidrate-se bem, mantenha-se ativo e cuide do seu sono e bem-estar emocional. O equilíbrio do seu intestino pode ser a chave para uma vida mais longa, saudável e feliz.

Dra. Nathália Guarnetti – Médica Cirurgiã Geral
CRM-SP 163.761
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