top of page

Beleza e saúde mental:

  • revistanovaversao
  • 22 de out. de 2024
  • 4 min de leitura

Um olhar crítico sobre o conceito de estética e a influência do mercado


Ao falar do mercado da beleza, é importante também abordar a nossa saúde mental. A Dra. Cristiane Lorga, psicóloga sistêmica e consteladora, nos convida a refletir sobre a origem do conceito de beleza e como ele afeta nossa autoestima e bem-estar. Ela ressalta que o conceito de beleza não é fixo, mudando, em média, a cada 12 anos. "Você já se perguntou o que era considerado belo há 20 anos?" indaga Cristiane, incentivando uma análise mais profunda sobre como essas mudanças impactam nossa percepção de nós mesmos.


“Quando éramos crianças e visitávamos minha bisavó no fim das férias, voltávamos queimadas de sol, com a pele vermelha como pimentões, nos sentindo lindas. A Bisa, porém, sempre dizia à minha mãe: 'Coitadas dessas meninas, estão queimadas de sol, como você deixa? Elas ficam feias assim.' Nós ríamos. Mas, qual era o conceito de beleza na época dela? E hoje? Quais conhecimentos existiam? Que produtos ou protetores solares estavam disponíveis?


Agora, vamos expandir essa reflexão: se fôssemos colonizados por orientais ou africanos, como seria o nosso conceito de beleza? O conceito de beleza está profundamente ligado ao tempo em que vivemos, à nossa cultura, à nossa localização geográfica, e até mesmo a quem nos colonizou. Ele também está relacionado às descobertas científicas e, muitas vezes, é moldado por grupos de interesse com poder de influência.


Diante desse contexto, como eu me vejo e me sinto em relação ao meu corpo, minha idade, e como eu invisto no mercado da beleza? Será que o mercado da beleza está me servindo, ou sou eu quem está a serviço dele?”


Saber que o conceito de beleza é mutável, poderia ser libertador, entretanto nem sempre é simples assim. Nossa beleza vem de dentro para fora. Quando eu não me sinto bem internamente, nada, nem nenhum investimento em cremes, procedimentos ou cirurgias serão suficientes, daí a relevância do autoconhecimento. Ao me conhecer eu sei dos meus limites e das minhas potências, da força, valor e tamanho da minha beleza e o mercado da beleza estará a meu serviço. 


Claro que a pessoa que se cuida, se olha no espelho e fica contente com o que vê, quando ela tem amor-próprio, ela se sente segura para realizar seus objetivos, todavia, agora me refiro às pessoas que buscam no espelho, a beleza interna. Tentam “arrumar” tudo no corpo, investem, às vezes, até o que não têm; confiam e entregam seus corpos, sua saúde, a profissionais incompetentes; tomam e injetam drogas no corpo sem considerarem sua segurança ou consequências a médio e longo prazo. Essas pessoas são escravas do mercado de beleza e o pior é que nunca será suficiente, pois a questão é interna, entretanto, parece mais fácil e rápido, comprar produtos a se conhecer e a aprender a se olhar com amor, respeito e honra. 


Vale ressaltar que a busca pela beleza a qualquer custo deixa de ser saudável e, para alguns se torna uma obsessão, compulsão ou fonte de mais problemas; doenças, inseguranças, depressão, ansiedade, prejuízos financeiros, relacionais, físicos e podem levar à morte. 

Durante a pandemia e no período pós-pandemia, observou-se um aumento significativo na procura por produtos e procedimentos de beleza, inclusive por adolescentes, a partir dos 10 anos. Diante dessa demanda crescente, o mercado já desenvolveu produtos especificamente voltados para esse público. Esse é o poder do mercado da beleza! Muitos jovens são autorizados e até incentivados pelos pais, sob a justificativa de que "minha filha tem que" ser a mais bonita, popular ou bem vestida. Talvez, para alguns pais, seja mais fácil ceder do que dialogar e estar presente de fato. A internet, com seus inúmeros tutoriais, tem influenciado fortemente essas crianças, trazendo novos conceitos e expectativas à medida que as redes sociais se tornam mais acessíveis. Todas essas mudanças estão nos transformando como sociedade, e essas transformações podem ser tanto positivas quanto negativas, dependendo de como escolhemos lidar com elas.


Outro ponto a ser destacado é a longevidade. Hoje, as pessoas vivem mais, e o mercado da beleza acompanha de perto essa realidade, contribuindo para que essa fase seja vivida de forma mais saudável e esteticamente agradável. A idade que antes era considerada avançada hoje é vista com novos olhos; pessoas que antes eram vistas como "velhas" agora são vistas como jovens. No entanto, é importante lembrar que nem tudo é inteiramente bom ou ruim, e os extremos merecem nossa atenção.


Frequentemente, é mais fácil investir em procedimentos ou medicamentos que prometem resultados rápidos, do que investir em psicoterapia, já que o amor-próprio exige tempo e responsabilidade. Muitos consideram esse investimento "caro demais", mas, uma vez alcançado, ele nos permite reconhecer e valorizar nossa própria beleza de forma natural.

O conceito de beleza e seu mercado refletem a sociedade em que vivemos, nossa história de colonização e as estruturas de poder que nos influenciam. Cabe a nós decidir se estamos a serviço do mercado da beleza ou se ele está a nosso serviço”, finaliza Cristiane.


Cristiane Lorga - Psicóloga sistêmica e consteladora



Comments


bottom of page