Como criar os nossos filhos nos dias atuais?
Educar os filhos e prepará-los para o mundo nunca foi uma tarefa fácil. No mundo contemporâneo, os pais buscam maneiras ou fórmulas para educar os seus filhos. E a verdade é que não existe uma receita pronta. Quando o casal espera um bebê, eles sonham com tudo o que há de melhor para o seu filho e querem, acima de tudo, que ele seja próspero e feliz.
Mas, estudos na área revelam que essa tarefa, de educar os próprios filhos, está cada vez mais difícil, pois cada criança é um “mundo” em particular, com seu próprio ritmo, desenvolvimento e tempo.
Em contrapartida, os pais são os maiores exemplos para seus filhos, e, em um mundo que traz uma pressão de forma tão intensa e acelerada, fica mais difícil desempenhar o papel que tanto gostariam, fazendo com que muitos se questionem se são ou não bons pais. Segundo especialistas, as crianças recebem, hoje, um excesso de estímulo que está presente a todo momento, seja no acesso ilimitado a smartphones, redes sociais, jogos de videogame ou no excesso de TV. Com isso, estão perdendo as habilidades socioemocionais mais importantes: colocar-se no lugar do outro, pensar antes de agir, expor e não impor as ideias, aprender a arte de agradecer e desenvolver, nas crianças, habilidades como altruísmo e generosidade. Infância com responsabilidades
Para a psicóloga Karina Younan, os filhos sempre foram e sempre serão uma responsabilidade e uma enorme bênção. “Responsabilidade porque, para criá-los bem, precisamos de uma infraestrutura que demanda não só o desejo de criá-los, mas também tempo e disposição interna e conjunta para fazer isso bem. A criação dos filhos não depende só de um, é preciso que o casal esteja alinhado nessa tarefa e somar-se às demandas materiais, emocionais e sociais que uma criança precisa e depende para ter, no mínimo, saúde e desenvolvimento adequados. Quando temos filhos, crescemos e aprendemos com eles, entendemos que o cuidado precisa ser intensivo e amplo. É desgastante, é frustrante, e, ao mesmo tempo, é um choque de amorosidade maravilhoso.”
Karina esclarece que é preciso pontuar que o tempo em que vivemos merece análise para executar bem a tarefa de sermos responsáveis pela nova vida que se forma. “Temos uma educação compatível como pais? Sabemos quais valores queremos transmitir? Nossa rotina nos permite agora priorizar os cuidados com um bebê, sabendo que essa demanda é física e emocionalmente exaustiva? Temos infraestrutura que possa nos ajudar: ‘família, casa estruturada, trabalho e renda’, tudo ok? E os nossos ideais? Poderemos ajudá-lo a entrar no mundo social e virtual, apoiando e orientando essa criança? Os pais devem saber que é muito importante estar atento às necessidades do seu(s) filho(s), antes de atender as suas. E, para isso, podemos perguntar: ‘Eu tenho dentro de mim esse espaço emocional para me doar, ao invés de atender demandas da minha própria infância, que deveria cuidar primeiro?’.”
Karina ainda explica que esses são alguns questionamentos que considera relevantes, mesmo sabendo que cada ser possui suas particularidades e não é possível generalizar. “O afeto cria possibilidades e nos guia, às vezes, a mudar a vida em função do bem-estar dos filhos. Se essas condições estiverem atendidas, ou forem refletidas com sinceridade, teremos condições melhores de começar o que considero o grande trabalho de nós, seres humanos.”
Educação e visão sistêmica
A terapeuta e mentora de relacionamentos, Karina Chiarato, explica que, quando se fala em paternidade e maternidade, dentro da visão sistêmica, pode-se chegar a uma grandeza inigualável, pois é, neste momento, que a vida acontece. “Os pais impactam a vida dos filhos diretamente, pois são dos pais biológicos a origem de toda a carga genética que compõem a formação física, psicológica e emocional de um filho. Sendo assim, carrega-se muito mais informações genéticas do que apenas características biológicas, como se acreditava até pouco tempo atrás. Portanto, independentemente do destino que envolve essa relação pais e filhos, o amor que envolve é muito maior.”
Ela ainda explica que ser pai e mãe, atualmente, não tem sido fácil e nunca se preocupou tanto com o bem-estar dos filhos como agora. “Com isso, os pais têm carregado um sentimento de culpa gigantesco por não dar aos filhos aquilo que eles acreditam ser necessário. Percebe-se, cada vez mais, filhos adoecidos pela distância da essência dos pais, que, inconscientemente, e sempre acreditando estar fazendo sempre o melhor, ausentam-se cada vez mais, buscando dar a esses filhos condições para sobreviverem melhor aos desafios que vão encontrar no futuro.”
Para ela, esse comportamento entre pais e filhos é errôneo, pois ambos deixam de viver juntos o momento presente. “Além disso, os pais não percebem, mas impactam diretamente na formação dos filhos. A maior herança que um filho pode receber dos pais é a força da vida, pois é essa a força responsável para gerar energia para os filhos viverem em plenitude. Percebe-se, em homens e mulheres, já adultos, a dificuldade nos relacionamentos e na função de pais. Tudo isso porque estão fazendo papéis de crianças, por carregarem muitos traumas da infância, com seus medos, suas inseguranças e seus traumas de uma vida toda, impedindo de ocupar o seu próprio papel de pai e mãe”, e finaliza, “por isso, é importante tomar consciência do seu lugar de filho, que, por vezes, é sacrificado pelos pais. É preciso se enxergar diante desses pais para receber deles a essência da força da vida, de forma bem simplificada. Assim, esses pais se tornam disponíveis aos filhos, oferecendo a eles tudo o que é preciso para viver.”
O papel das escolas
Para a proprietária e pedagoga da Escola Pequetitos, Érika Neves, a educação dos pais em relação aos filhos mudou muito nos últimos anos, pois as mães e os pais têm terceirizado, para as escolas, a responsabilidade de educar seus filhos. “Cabe à escola todo o envolvimento acadêmico, desde a primeira infância. Claro que, na escola, devemos estimular todo o conceito pedagógico e ter esse olhar mais humanizado para trabalhar a essência, o respeito e a exclusividade de cada criança. Contudo, a ausência dos pais, nesta fase, deixa de lado a base familiar, que é o alicerce de tudo. E isso é negativo na vida das crianças, pois vemos jovens e adolescentes implorando atenção. É importante que os pais fiquem atentos não apenas ao material. Filhos precisam de cuidados, atenção e amor.”
Ela ainda explica que, atualmente, os pais estão gerando competição em seus filhos em relação a outras crianças, como, por exemplo: ser bom em tudo, falar outra língua fluentemente, ou estar à frente de outros alunos na escola.
Sobre as gerações anteriores, Érika explica que os pais não tinham tanto acesso às informações. Mas os valores, no que diz respeito à formação do indivíduo e as suas qualidades, eram uma marca forte na educação desses pais. Exemplos como respeito, idoneidade, entre outros valores, sempre foram importantes para repassar aos seus filhos. “Vejo que, na geração atual, os pais tendem a ficar com receio de não frustrar seus filhos.
Mas eles precisam entender a importância da palavra ‘não’. Os filhos precisam aprender com as conquistas, com as vitórias e também com as derrotas. Tudo isso faz parte da boa formação de uma criança. Ela precisa ter frustrações e aprender a conviver com elas, porque, sem isso, teremos pessoas com tendências a depressão, suicídio e outras doenças psicológicas.” Para as gerações futuras, Érika acredita que as pessoas terão mais leveza em seus pensamentos e que teremos uma geração mais desapegada aos bens materiais e sem julgamentos. “A geração atual está plantando o que a geração do futuro irá colher.
Acredito que teremos pessoas mais humanas, que olharão para todas as coisas, verdadeiramente, com ‘olhos’ da verdade. Também acredito que teremos pessoas com um estilo de vida mais verdadeiro, mais humano e que terá muito para nos ensinar.”
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